sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Eu sou a Marla


Hã? Quem sou eu? Ops, desculpa, é que sou um pouquinho desligada.Eu ainda estou em busca de saber quem sou. Às vezes me sinto racional, às vezes emocional. Sou arrojada e destemida, e contraditoriamente medrosa. Sou completamente indisciplinada e sempre chego atrasada nos meus compromissos. Minha vida era conduzida pelo vento; sempre dizia que eu não era árvore, por isso não tinha raízes. E o vento me levou para várias cidades, para vários empregos e para minhas profissões, administradora e fisioterapeuta, tudo “praticamente por acaso”. Tenho 36 anos, mas ainda não acreditei nisso.

Eu queria ser Pediatra, acho que por idolatrar o meu. Até um certo ponto da vida eu gostava de crianças, depois comecei a adorar as crianças japonesas (porque estavam lá no Japão rsrsrsrsr).

O pensamento de ser mãe nem de longe passava pela minha cabeça, até que os anos de relacionamento com o marido, o instinto, a vida a minha volta, tudo, foi aos poucos manifestando a vontade de engravidar.

Durante esse processo todo do pensar e decidir engravidar a minha maior preocupação não era com noites em claro, fraldas pra trocar, peito caído ou barriga mole. Era, pura e simplesmente, saber se eu poderia continuar usando minissaia. Sim, isso mesmo. Sempre que eu ouvia ou falava a palavra mãe vinha junto a palavra senhora; e senhora não combinava com minissaia.



Quando tínhamos decidido que aquele seria o momento, tivemos que adiar por quase dois anos. E assim o tempo foi passando e os temidos 35 anos chegando. Em setembro de 2007, durante nossa viagem de férias, começamos nossas tentativas. Em dezembro, exatamente no dia 31, engravidei. Mas não era dessa vez. Em fevereiro sofri um aborto espontâneo. Sentei no banheiro e chorei, chorei por estar sozinha nesse momento tão difícil (meu marido estava viajando), chorei pela perda, chorei pela frustração. Mas não posso dizer que fiquei desolada porque a gravidez ainda não tinha se concretizado na minha cabeça.

Em março começamos tudo de novo e a cada mês que passava e que a menstruação chegava, mais ansiosa eu ficava. Foram incontáveis testes de gravidez. Sim eu sou mega ansiosa, agoniada e neurótica.

Dia 25 de junho o Caio foi concebido. E no dia 08 de julho, 4 dias antes do dia oficial que a menstruação viria e após ter sonhado com minha avó fazendo meu parto (ela era parteira), fiz mais um teste de farmácia e lá estavam as duas listrinhas rosas do resultado positivo. Meu marido estava viajando e a primeira coisa que fiz, lógico, foi ligar para ele e dar a notícia. Como eu disse sou mega ansiosa e não agüentaria esperar ele voltar para contar a novidade. Infelizmente não pude ver a expressão de seu rosto, mas senti a emoção da voz, trêmula de felicidade.
Tive medo de abortar novamente e ter que começar tudo de novo, mas mesmo assim espalhei a notícia para todo mundo.

Os primeiros 3 meses foram horríveis, com enjôo o dia inteiro, todo dia. Comecei a perceber que minha vizinha começava o almoço às 09:00h da manhã e a xinguei muito por isso. E magicamente, assim, de um dia para outro, os enjôos sumiram.

A barriga começou a crescer e eu comecei a curtir a gravidez. Adorei ser paparicada, adorei pegar fila preferencial, adorei fazer o enxoval, escolher o nome, decorar o quarto... Mas não adorei os enjôos, o inchaço e o desconforto pra dormir. Fiquei um pequeno monstrinho de tão inchada que estava. Minha barriga era gigante e sempre tinha que ouvir alguém perguntar se eram gêmeos.

Durante esses 9 meses eu não conseguia me sentir mãe ainda, nem ao menos dizer que amei meu filho desde que foi concebido.

Era ativista do Parto Normal e achava absurdo alguém marcar o parto, até o dia que peguei um resultado de exame alterado, que depois normalizou, mas me deixou sem coragem de esperar pela vontade de nascer do meu filho. Marquei o parto para o dia 06 de março. E tremendo de medo fui para a maternidade. Cada segundo demorava séculos para passar e para piorar o medicou atrasou. Achei horrível a sensação de ser transportada naquela maca e ficava levantando a cabeça o tempo todo pra ver se conseguia ver o mundo da posição vertical. Todos na sala de cirurgia, médicos, enfermeiros, marido, máquinas de fotografar e filmar e claro, eu. Nasceu meu pequeno Caio e naquele instante mágico nasceu junto um novo mundo que a gente iria descobrindo aos poucos. Eu não sabia muito bem o que fazer, o que falar, onde colocar as mãos e a única coisa que eu repetia incessantemente era: meu bichinho, meu bichinho, meu bichinho.
Eu ainda estava confusa com tudo isso e assim como a Debbie, o amor foi surgindo com o tempo. As primeiras semanas foram difíceis, não por não saber cuidar do Caio, mas por toda mudança que ocorreu na minha vida. Eu tinha deixado na maternidade a Marla que trabalhava fora, fazia unhas toda semana, andava sempre maquiada, saía a hora que queria para onde queria, comprava tudo que via pela frente e vivia livre. Quem veio pra casa foi a Marla, mãe do Caio, com peitos vazando de leite, descabelada, com dores da cirurgia, com unha sem fazer e que não trabalhava mais.
Antes mesmo de engravidar decidi que iria parar de trabalhar e ficar com meu filho, pelo menos por um ano. Não ter salário no final do mês e agüentar a rotina de banhos, comida, fraldas, choro, mamadeira, casa; é uma decisão difícil para quem sempre trabalhou. Mas não me arrependo nem por um instante. Amo estar com meu filho, vê-lo crescer, se desenvolver, encaixar pecinhas, sorrir, falar mamamam, dar seus primeiros passinhos, brincar com os cachorros, fazer barulhinho para comer e tudo mais que uma criança nos traz de felicidade.
A maternidade é o clichê do amor eterno e incondicional, e ninguém nunca saberá, nem em sonho, o que é ser mãe até se tornar uma.
O site e-family entrou na minha vida na época ainda de treinante (é como chamam quem está tentando engravidar), mas foi com o grupo mamães de março que virou paixão e vício.
Eu já fazia parte das mamães de março desde o começo, mas dei uma sumida e retornei quando as meninas do Rio estavam combinando um encontro. Eu, metidamente, me convidei para participar. Daí em diante não nos largamos mais.
Participar desse grupo tem sido muito além de uma simples troca de dicas e experiências sobre a maternidade, nós estamos crescendo juntas como mães e descobrindo juntas como ser mãe e mulher. Todas são diferentes nas opiniões, na maneira de encarar a vida, no modo de criar os filhos e é isso que torna tudo tão interessante e sensacional.

Eu jamais imaginei que amizades virtuais pudessem existir e ainda mais, transpor das páginas da internet direto para a nossa casa e nosso coração.

7 comentários:

  1. Como gostar tanto de alguém, que nem conheço pessoalmente?
    Dificil de achar explicações, mais sinto um carinho imenso por você, além de ser uma eterna admiradora do seu bom humor e inteligência.
    Beijooos enormes em você e no Caio.

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  2. Marla, como disse pra dani perfeito...vcs são ótimas escritoras....
    Seu jeito calmo é contagiante...

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  3. Maravilhoso Marla... Beijos com carinho!!!

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  4. Adorei tua historia,vc passa uma tranquilidade, é bem legal,queria ser assim!!!!
    beijinho pra vc e pro Caio.

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  5. Amei, amiga. Abalou!
    Me emocionei.
    Como diz a boneca meio psicopata da Babi "Quero ser sua amiga pra sempre"!

    Bjs

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